Por - Euler Viana
Por trás das Grades
Algumas cenas no meu cotidiano tem me deixado incomodado e intrigado. Cenas que muitas vezes passamos despercebidos, mas que tem virado rotina e não percebemos o quanto isso está transformando nossa sociedade e o nosso comportamento. Estamos vivendo atrás de grades e muros que nos dão uma pequena sensação de segurança, mas que não cura o medo e a sensação de impunidade. O prazer de poder levar os filhos ao parque; de torcer pelo seu time preferido nos estádios; sair às ruas com a família; ou simplesmente montar uma pequena “venda”, tudo isso tem tirado o sossego das pessoas.
É comum na minha caminhada para o trabalho dar um “tchauzinho” para o casal de velhinhos que todos os dias ficavam sentados em suas cadeirinhas confortáveis feito de retalhos de tecidos coloridos atrás das grades da garagem vazia. Deve ser doloroso as pessoas passarem e nem notarem que estavam ali pra receber sorriso ou apenas um olá como vai? Hoje tem apenas uma cadeira ocupada atrás das grades da garagem velha, a outra cadeira está vazia, seu velhinho, partiu.

O sorriso dela já não é o mesmo, o tchauzinho não tem tanta força, mas a cadeira vazia estava ali, ao lado dela. Andando alguns metros dali, a venda do "Sêu Zé "também, com grades, tem de tudo um pouco, cadeado, linha para costura de todas as cores, leite de saquinho e pó de café moído na hora"". Sua "venda", não tem o glamour dos supermercados com gôndolas, e nem iluminação apropriada, muito menos corredor para passear com o carrinho de compras. Ali tem apenas o "Sêu Zé", que vende fumo de rolo, queijo de minas, linguiça Maria Rosa e "cigarro picado".
Através dessas grades, todos os dias passam pessoas e zumbis, passam ambulâncias e carro da polícia. Essa história, bem que poderia ter crianças brincando nas praças correndo felizes pra todos os lados, poderia ter uma roda de amigos proseando e jogando dama na frente de suas "vendas", e quem sabe até um casal de velhinhos de mãos dadas. Mas nessa história aqui não tem celebração, não tem paixão e nem beijão. O que temos aqui são apenas grades.
Euler Viana